1 julho , 2025

Risco climático e a indústria de seguros: tecnologia, precificação e os desafios do futuro

Blog

Por Fabiane Gomes Pereira – OAB/GO nº 30.485

Advogada e sócia e gerente de Seguros da Jacó Coelho Advogados. Graduação em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) e pós-graduação em Trabalho e Processo do Trabalho pela Atame, em 2015. MBA em Gestão Jurídica de Seguros e Resseguros pela Escola Superior Nacional de Seguros (FUNENSEG). Possui ampla experiência em contencioso e consultivo de seguros e cível.

A crescente frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como secas severas, inundações históricas, incêndios florestais e ciclones tropicais, ampliou de forma significativa os impactos do risco climático sobre as operações seguradoras. A imprevisibilidade que outrora era pontual passou a ser estrutural. Nesse cenário, a indústria de seguros tem sido desafiada a rever seus modelos atuariais, aperfeiçoar suas ferramentas de gestão de riscos e incorporar, com urgência, tecnologias capazes de antecipar, mensurar e mitigar perdas cada vez mais complexas.

A boa notícia é que a tecnologia tem avançado na mesma proporção dos desafios. A integração de soluções como inteligência artificial, satélites meteorológicos, big data e modelagens climáticas computacionais tem permitido uma análise mais precisa das variáveis ambientais e sua correlação com sinistros. Plataformas de monitoramento climático em tempo real, por exemplo, têm sido incorporadas aos sistemas das seguradoras para prever padrões de risco com base em dados geoespaciais e históricos. Isso não apenas melhora a precificação dos contratos, como também permite o desenvolvimento de seguros paramétricos, aqueles que pagam indenizações com base em parâmetros objetivos, como volume de chuva ou temperatura, dispensando a comprovação de dano direto.

A aplicação dessas tecnologias é particularmente relevante em seguros rurais, patrimoniais e ambientais, em que o risco climático é central. No agronegócio, por exemplo, a mensuração adequada do risco climático é fator decisivo para a continuidade da produção e o acesso ao crédito, tornando o seguro agrícola uma ferramenta estratégica de sustentabilidade. De acordo com o Swiss Re Institute, as perdas seguradas globais por eventos climáticos ultrapassaram a média de US$ 100 bilhões ao ano nos últimos cinco anos, pressionando a sustentabilidade do setor e evidenciando a necessidade de resiliência financeira.

No contexto brasileiro, marcado por eventos climáticos extremos recentes, como as enchentes no Rio Grande do Sul, a pressão sobre o mercado segurador é grande. Modelos tradicionais de subscrição, baseados em análises retrospectivas, mostram-se insuficientes. As seguradoras que desejam manter competitividade e solvência precisam investir na capacidade de antever riscos futuros com base em dados climáticos dinâmicos e projeções integradas a modelos estatísticos de última geração.

Do ponto de vista jurídico e regulatório, essa transformação impõe novos desafios. A precificação baseada em algoritmos e dados massivos demanda transparência, rastreabilidade e aderência às diretrizes da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), além de cuidados com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). O desafio está em equilibrar inovação e segurança jurídica, garantindo que as novas tecnologias sejam ferramentas de mitigação de riscos e não fontes adicionais de litigiosidade.

Outro ponto de atenção é a necessidade de políticas públicas que incentivem o desenvolvimento de soluções seguradoras para riscos climáticos. Fundos de resseguros públicos, subsídios a prêmios de seguro rural e estímulo à criação de produtos paramétricos são algumas estratégias que vêm sendo adotadas internacionalmente, e que precisam ser amadurecidas no Brasil como resposta à vulnerabilidade climática.

O futuro do setor segurador passa, portanto, pela sua capacidade de atuar não apenas como reparador de danos, mas como agente de previsibilidade e estabilidade em uma era de incertezas ambientais. O risco climático é uma realidade inescapável. Mas, com inteligência de dados, robustez contratual e inovação responsável, é possível transformá-lo em uma variável gerenciável e até em oportunidade de posicionamento estratégico para empresas que enxergam o seguro como instrumento de sustentabilidade econômica e ambiental.

Compartilhe:

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Email

Leia mais publicações

Blog

Boreout no ambiente corporativo: quando o tédio se torna um risco ocupacional

Blog

Risco climático e a indústria de seguros: tecnologia, precificação e os desafios do futuro

CLIPPING  - 1

O avanço do seguro de vida com assistências voltadas ao uso em vida

Blog

O avanço do seguro de vida com assistências voltadas ao uso em vida


CLIPPING  - 1

Artigo da sócia Claudinéia Pereira no portal jurídico Migalhas

Blog

Seguro viagem e a expansão da responsabilidade securitária: os limites jurídicos diante da judicialização crescente

Acompanhe-nos no instagram

Esta mensagem de erro é visível apenas para administradores do WordPress

Erro: nenhum feed com a ID 1 foi encontrado.

Vá para a página de configurações do Instagram Feed para criar um feed.