Naisy Carvalhais Bernardino é sócia da Jacó Coelho Advogados Associados
OAB/GO 33.835
O planejamento sucessório é uma estratégia jurídica utilizada com o objetivo de evitar conflitos familiares, preservar o patrimônio familiar e reduzir os gastos com tributos, garantindo a continuidade dos negócios ao longo das gerações.
O agronegócio já é uma atividade permeada por riscos naturais e de mercado. Por isso, o produtor precisa se munir de medidas que protejam o seu patrimônio em todas as áreas, inclusive internamente. Estatísticas constatam que sociedades formadas por familiares têm mais dificuldades em conduzir os negócios sem desentendimentos.
Vocês sabiam que mais de 80% dos negócios familiares não chegam à terceira geração? E que 62% das empresas não estão preparadas para eventuais afastamentos de gestores-chave? Que 7 de cada 10 empresas não dispõem de procedimentos para resolver conflitos familiares? Que apenas cerca de 20% das fortunas brasileiras atuais são herdadas? E por último, que a maioria se perde em conflitos familiares que poderiam ser evitados? Diante disso, vemos a importância do planejamento sucessório na preservação do patrimônio.
Uma pesquisa recente realizada pela PwC junto a centenas de famílias empresárias revelou que em 44% delas há conflitos entre os familiares sobre a definição da estratégia dos negócios; em 36% delas há conflitos sobre o desempenho de membros da família envolvidos nos negócios; e em 26% delas há conflitos sobre o papel que os agregados da família devem ou não ter nos negócios.
Apesar de ser um assunto que muitos querem evitar, é importante que ele seja pensado e tratado, pois o planejamento sucessório pode garantir que os bens sejam transferidos para as pessoas e entidades de desejo do titular. Além disso, essas pessoas não terão que passar por um processo que pode se arrastar por vários anos, além de trazer problemas financeiros e de relacionamento. Com o planejamento sucessório, inclusive, é possível evitar o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), que incide sobre patrimônios doados em caso de morte.
Em qualquer cenário é importante pensar em alternativas para que as gerações futuras estejam preparadas para gerir o patrimônio que lhe será deixado, pois uma das causas da extinção da herança recebida é o fato do herdeiro não conhecer dos negócios e não estar preparado para receber o patrimônio familiar.
Existem formas de se fazer a sucessão patrimonial reduzindo tributos e evitando burocracias, dando aos herdeiros acesso mais imediato a herança. Vejamos algumas:
- Seguro de Vida. Fazer uma apólice de seguro de vida em nome dos herdeiros pode ser uma alternativa para gerar recursos e facilitar o planejamento sucessório. Isso porque o capital segurado não entra no inventário, e portanto, não se submete a imposto de transmissão.
- PGBL/VGBL. A contratação de previdência privada, seja na modalidade plano gerador de benefícios livres ou vida gerador de benefícios livres, é uma boa opção, pelas mesmas razões da contratação do seguro, vez que não incide imposto de transmissão e o acesso ao patrimônio pelos herdeiros se dá de forma mais rápida e menos burocrática, contudo, o contratante tem que conhecer bem cada produto e fazer a melhor escolha.
- Conta conjunta. A manutenção de conta conjunta entre cônjuges, filhos, pais ou até mesmo com pessoas de idade mais avançada, é uma medida que viabiliza que os valores constantes na conta possam ser movimentados na falta de alguém.
- Planejamento da sucessão. Além de envolver todos os pontos anteriores, é importante ainda prever a transmissão do patrimônio em vida com a manutenção das garantias e poderes de forma vitalícia para os sucedidos. Esse planejamento normalmente envolve a constituição de uma sociedade holding que passará a ser proprietária dos bens familiares e a doação ou venda de quotas com reserva de usufruto para os mais velhos. Esse tipo de estratégia pode proporcionar um ganho tributário muito significativo em comparação com a sucessão causa mortis ou mesmo em comparação com a doação dos bens com reserva de usufruto, além de possibilitar uma série de ganhos adjacentes a patriarcas e às novas gerações.